sábado, 24 de março de 2012

Chico Anysio e o futebol:


Morto aos 80 anos no Rio de Janeiro, em razão de complicações causadas por uma hemorragia digestiva, Chico Anysio deixa um legado para o humor nacional. No entanto, o cearense de Maranguape também manteve uma ligação íntima com o futebol ao longo de sua vida profissional. Vascaíno apaixonado, a estrela da Rede Globo esteve presente junto ao seu esporte preferido de diversas formas.
Na televisão, adicionou ao seu numeroso repertório de personagens o boleirão Coalhada. Atleta estrábico, de cabelos encaracolados, a caricatura de jogador de futebol criada por Chico Anysio vivia contando vantagens de sua condição de craque. No entanto, enfrentava o rótulo de perna-de-pau e cobranças insistentes de torcedores e comentaristas.
A verve de comentarista fez Chico Anysio emprestar sua opinião em momentos importantes do futebol nacional. Neste papel, mesmo em tempos da lei do politicamente correto, não passou incólume. 
Num texto de 2006, nas vésperas da Copa de 2006, Chico Anysio listou para o jornal Lanceponderações sobre a equipe que disputaria o Mundial na Alemanha. Em reflexão sobre a escolha de Dida para o gol do time de Parreira, o humorista polemizou ao lembrar um personagem do drama da seleção de 1950, marcada para a derrota para o Uruguai no Maracanã.
No comentário que provocou bastante repercussão, o comediante resvalou na questão racial ao relembrar o “vilão” do Brasil no vice-campeonato mundial de 1950: “Não tenho confiança em goleiro negro. O último foi Barbosa, de triste memória na seleção”.
Pra quem torcia?
Chico Anysio gostava e entendia tanto de futebol que conseguia ser um bom advogado de defesa para as trocas de camisa que já fez como torcedor. Ele não entendia por que se critica tanto quem resolve torcer para outro clube.
- Eu acho o seguinte: você muda de mulher e não é vira-leito. Você muda de rua e não é vira-placa. Você muda de fé e não é vira-cruz. Quando muda de time, é vira-casaca. Por quê? Eu estou Vasco. Se o Vasco fizer uma grande sacanagem com alguém amanhã, eu deixo de ser. Imediatamente - disse o humorista, que já foi comentarista de futebol na Rádio Tupi.
Uma das mudanças de time do hurmorista aconteceu em plena viagem, quando voltava de carro de Piraí, escutando o jogo do América. Daí em diante, não trocou mais.
- A equipe jogava contra o Náutico no campo do Vasco. Tinha que empatar para passar para a fase seguinte do Brasileiro. E acabou derrotada por 3 a 0, três gols do Baiano. Eu tinha falado, antes do jogo: "Se o América perder esse jogo, eu paro de ser América. Vou fazer 50 anos, não posso ter uma velhice preocupada. Aí eu voltei a ser Vasco, que tinha sido o primeiro time pelo qual torci no Rio. Tinha deixado de ser Vasco por causa de uma safadeza que a diretoria fez com o treinador, o Gentil Cardoso. Aí, pensei: vou escolher um outro time. E escolhi o maior adversário do Vasco, o Flamengo, que tinha sido o sétimo colocado no Carioca de 1952.
Chico Anysio com a camisa do Vasco (Foto: André Durão / GLOBOESPORTE.COM)No período rubro-negro, Chico Anysio ficou amigo do treinador paraguaio Fleitas Solich, que era seu vizinho. Certa vez, o técnico, depois de sagrar-se tricampeão carioca com o Rolo Compressor de Dida, Evaristo, Joel, Rubens & Cia., confessou ao humorista que havia rumores de que sairia e já iniciara os contatos - recebera, inclusive, proposta do Boca Juniors, repassada à diretoria, para saber se a intenção do clube era mantê-lo ou dispensá-lo.
- No dia seguinte, ele me falou: "Vou ficar. O presidente disse que só saio do Flamengo quando ele sair." Era o Fadel Fadel. O Flamengo viajou para a Espanha. Quando Don Fleitas chegou no hotel, tinha um telegrama para ele, o dispensando. Aí, pensei: como um clube tem um presidente que dispensa um técnico sem coragem de falar no olho dele? Esse time é muito pequeno para mim. Vou tirar tudo de sujo que tem na camisa. Aí, virei América. Então, tudo tem um motivo. Depois que deixei de ser América, voltei a ser Vasco e não mudei mais. Fui muito bem recebido de volta, ninguém me chamou de vira-casaca. E o time do meu fundinho do meu coração é o Palmeiras - afirmou, mostrando, no entanto, a camisa personalizada que ganhou do presidente cruz-maltino, Roberto Dinamite.
Fontes: GLOBOESPORTE.COM e UOL

 
 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário